O que uma fazenda
pode esconder? Quem aqui não se lembra de alguns dos inúmeros contos, baseados
em fábulas portuguesas e africanas que apesar de terem dado origem a mitos
arrepiantes sobre criaturas das florestas, acabaram se tornando histórias
fofas, infantis, a exemplo do Saci, Curupira, Mula sem cabeça, outros.
A proposta do autor
Marcos DeBrito ao produzir essa trama maravilhosa e surpreendente foi reaver o
terror perdido da nossa mitologia e até mesmo criar um naqueles que passaram a
vida inteira embalada apenas com as fabulas contadas por Monteiro Lobato.
Recriando um Brasil
colonial do final do século XVIII, utilizando-se de parte de registros de uma
época, O Escravo de Capela irá fazer você embarcar num mundo sombrio, onde o
sobrenatural se torna mais verossímil com toda certeza.
No ano de 1792, no
auge da era colonial Brasileira, a produção de açúcar nas fazendas de cana era
um dos negócios mais rentáveis da época, alem de ser controlada pelas mãos nada
piedosas dos senhores de engenho no qual usava homens acorrentados, dilacerados
suassem em seus canaviais em enquanto a elite gozava de toda pompa possível na
casa grande.
Antonio feitor da
fazenda Capela e filho do grão-senhor da fazenda Batista, aos trinta e cinco
anos era de longe o segundo mais temido pelos escravos da fazenda. Sua falta de
controle e a severidade de seus castigos, não desmerecendo o seu imenso prazer em
cometê-los vinha trazendo prejuízos a fazenda, diminuindo sua mão de obra, o
que não agradava em nada seu pai.
“- Escravo aqui só tem direito a duas coisas – continuou: - Primeiro:
não ter direito a nada! E segundo: não reclamar desse direito. Se tem negro que
discorda, para quem ainda não sabe, domesticar os selvagens é a função pela
qual tenho mais apreço.”
Ele é tão mal gente,
que condenara um de seus escravos a passarem o resto da vida sem o movimento
das pernas. Totalmente contrário a natureza de seu irmão caçula Inácio que
apesar de herdeiro disso tudo, cultivava o direito de que todos os seres
humanos devem ser tratados de forma igual, de forma humana. Batista em meio a
essa batalha de controlar a impetuosidade de seu primogênito e convencer o
caçula a assumir o controle da fazenda, todos viveram momentos de muito terror
onde a morte com certeza será o inicio para algo totalmente assustador que lhe
prenderá do inicio ao fim.
Recriando uma de
nossas fábulas desde a origem, construindo sua mitologia de forma adulta, o
autor conseguiu criar uma narrativa não somente tenebrosa de vingança com
elementos reais e perversos, não é muito mais do que isso.
Sendo uma releitura
do nosso Saci, aqui o capuz vermelho, sua marca mais conhecida é deixado de
lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário
ensanguentado de sua morte, usado como instrumento principal para uma trama
espetacular de vingança, parabéns Marcos foi perfeito.
Vale a pena conhecer
essa trama que reconta um pouco da história do Brasil, nos faz brotar dentro de
si e até talvez reencontrar o medo perdido da lenda original, e tudo isso em um
enredo repleto de surpresas e reviravoltas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário