Era e ainda é até hoje costumeira essa atividade entre as crianças em todo o mundo uma brincadeira para as crianças e muitas vezes um incomodo para os adultos, afinal, quem nunca tocou uma campainha de uma casa, prédio e correra logo em seguida? Mais em uma pequena cidade do outro lado do mundo, essa travessura de criança fora marcada de maneira não tanto divertida assim....
Todos os anos, somente na sexta feira 13, a garotada de uma pequena
cidade próximo a Las Vegas, saiam de porta em porta apertando suas campainhas e
dizendo:
“Doces ou
travessuras? Lá, lá, lá, lá, lá”
Era e ainda é uma tradição de lá, crianças saírem para pedir doces de
porta em porta, geralmente fantasiadas de algum personagem de terror. Todos na
cidade participavam dessa atividade, se preparando para receber a garotada com
doces ou travessuras. Apenas um homem, não entrava no clima, ele odiava
crianças e as tratava muito mal sempre que alguma se aproximava dele ou do seu
prédio.
Sabendo disso, havia um grupo de crianças, na qual a pequena Ana fazia
parte, que dedicava uma atenção especial a este determinado prédio em questão:
Todos os dias no final da tarde, independentemente de ser ou não
sexta-feira 13, eles apertavam a campainha dele e saia correndo. Isso irritava
muito o velho de maneira descomunal, fazendo com que esbravejasse de maneira
absurda da porta, jogando inclusive pragas e maldições verbais nelas,
garantindo assim a diversão das crianças, que encarava aquilo tudo como uma eterna
e divertida brincadeira.
Mais as suas pragas e maldições jogadas não tinha nada de engraçado, nem
muito menos fundos de brincadeiras, aquele homem as odiava profundamente, principalmente
a pequena Ana, que ao que parecia, durante suas vigilâncias ocultas pela
janela, era a cabeça da turma.
Aninha, como era chamada pelos seus pais e amiguinhos, era
implacavelmente levada. Como toda criança assim, ao notar que aquele velho não
gostava da brincadeira, as chingavam e ainda por cima nunca dava doces, a
irritava muito. Não havia muito a fazer a não ser devolver a gentileza, fazendo
aquilo que o deixava furioso.
Aninha tocava constantemente a campainha do velho, estando em grupo ou
sozinha, não importava a hora em que passasse pela frente do prédio, era irresistível
a tentação de apertar aquele bendito botão e fugir em seguida. Se na sua infância,
nunca fez isso, então você simplesmente não sabe o que é adrenalina.
Eles achavam aquele velho um bobão, chato e ruim. Em partes estavam
certos, mais nem tanto. Se tem uma coisa que aquele velho não tinha nada, era
de bobo. E assim era todos os dias, intensificando-se muito mais nos fins de
semana, onde os pais ficavam sentados em suas varandas conversando, enquanto os
seus filhos corriam para brincar.
O velho já sabia mais ou menos os horários em que as crianças iam para
rua brincar e se mantinha em prontidão em sua janela, vigiando, porém nunca
conseguia pega-los.
Mais ele prometeu na última sexta feira 13: ao invés de doces ou
travessuras, aquele velho jurou a pequena Ana.
“Um dia garota você
não poderá correr e nem se esconder,
Nesse dia seus
amiguinhos e nem os seus xexelentos pais,
Nem ninguém irá lhe
proteger e ai finalmente eu vou lhe pegar.”
Um forte vendaval passou e Ana sentiu o peso daquelas palavras
cortantes, em seus pequenos ouvidos, juntamente com um enorme calafrio, seguido
de um breve pequeno pavor, ela nada lhe disse, como fazia rotineiramente, e foi
devagar descendo os degraus porém sem dar as costas, e sem tirar os olhos do
velhote que se mantinha lá prostrado na porta com uma cara que ela jamais virá
na vida, monstruosa e perversa.
A pequena Aninha passou alguns dias sem tocar aquela companhia, assim
como seus amiguinhos, todos ficaram amedrontados com o relato da menina, mais
isso durara pouco tempo, afinal, a pequena Ana tinha somente 6 anos de idade,
assim como os demais garotos.
Um certo dia, em um belo final de tarde, onde o sol de verão ainda
brilhava alto, apesar de já ser noite, o mesmo teimava em se pôr, a Aninha
saíra para brincar na rua como de costume, porém sozinha, seus amiguinhos todos
haviam ido para colônias de férias ou para lugares distantes com suas famílias.
Apesar de haver outras crianças lá, não era a mesma coisa, não era a sua
turminha.
Nesse dia seus pais que costumavam ficar na varanda admirando o pôr do
sol e vigiando a menina, inusitadamente não repetirá esse ato, estavam lá
dentro ocupados com outras coisas.
A rua, estava atipicamente vazia, já que a maioria da vizinhança havia
viajado. Como era final de verão, folhas de cores alaranjadas já começavam a
cair vagarosamente das árvores e apesar do sol está ainda alto, ventava e o
vento fazia com que as folhas voassem, pairassem no ar, fazendo muitas vezes
lindos redemoinhos. A pequena Ana descendo sozinha a rua, pensando em que e com
quem iria brincar, parou estranhamente pela primeira vez para admirar aquilo,
abaixou-se pegando uma das folhas ficando ali algum tempo, longo, comtemplando
sua beleza, sua forma e sua linda cor, com os olhos brilhando e braços abertos,
girava igual no mesmo sentido, que os redemoinhos, desejando talvez voar como
eles, ela girou, girou, juntamente com os redemoinhos de folhas e acompanhada
com suas tranças e a saia do seu vestidinho azul bebê. Silencio, bem estar, contemplação,
paz e só. Foi tudo o que a garotinha sentirá pela primeira vez, além de uma
misteriosa sensação de despedida, será que do verão?
Após esse momento, no qual ela nem sabe o quanto durou, Aninha decidiu
que a melhor brincadeira para ela que estava só era: tocar a campainha daquele
velho ranzinza. Afinal quando foi mesmo a última vez que ela fizera isso? Já
estava na hora de volta, ela já descansara demais.
O que a pequena Ana não sabia, era que, aquele velho não descansara
nada. Estava obcecado pelas crianças, especialmente por Ana, ansiava se vingar de
qualquer maneira, e para isso passará todas as tardes religiosamente da sua
janela no segundo andar, do seu quarto, vigiando, estudando, seguindo todos os
passos, aguardando pela hora certa, Ana mal sabia o que a aguardava, ele
prometera e promessa para ele, era dívida.
Passos lentos, silencio no ar, assobio forte e assustador do vento ao
mesmo tempo, em que o sol se crava ao longe.
A garota olha para o prédio, aparentemente vazio ou quem sabe até cheio
de pessoas ocupadas demais para estarem em suas janelas.
Ela olha para janela do velho e tudo está escuro, será que estava
acordado? Não importa, Ana apenas queria sentir o gostinho daquele botão
novamente.
A ventania aumentara e seu
assobio também, fazendo com que Ana olhasse para os lados assustada, com a
sensação de que alguém a estava observando...mal sabia ela que sim, desde o início.
Luzes apagadas, água, biscoitos na mesinha para o caso de fome, lápis,
blocos de notas, binóculos apostos e o mais absoluto silencio. Para todos os
efeitos não há ninguém em casa ou talvez eu deva ter me recolhido mais cedo...passo
meses, semanas ou quem sabe dias a observar, vigiar, cronometrar cada passo
daquela maldita garota e seus amiguinhos a espera de uma chance. Não consigo dormir,
nem remédios surtem efeitos, aquela maldita campainha blém blom, blém blom, não
consigo para de ouvi-la, assim como os malditos passos delas correndo, aquela
garotinha, aquela maldita, ela começou isso!
Tirando-a do meu caminho, os outro também irão para com certeza.
Esperei pacientemente, dia após dia, até finalmente conseguir a chance
que precisava: a rua está vazia, só o vento e as folhas lhe fazem companhia e
até mesmo os seus pais não estão na varanda para protege-la, chegou a hora
dessa garotinha me pagar, e depois ai sim, poderei dormir.
Passos lentos, silencio absoluto, respiração presa, assim que a avisto
vindo no meio da rua brincando com as folhas, posição de ataque, sei para onde
ela virá. Deixo a porta entre aberta a espera daquela maldita campainha.
A campainha é tocada rapidamente como de costume, apesar do silencio e
do assobio do vento estranho e do medo que a garota está sentindo, ela venceu,
ela toca encosta seus dedinhos naquele bendito e redondo botão vermelho. O que
Ana não sabia é que essa vitória poderia ser cara demais.
Toco a campainha e me viro para correr o mais depressa que posso! Olho
para trás e vejo o velho parado olhando para baixo e não para mim, não entendo
o porquê, só quero apenas de repente ir para casa. Entro falo com a mamãe mais
ela parece zangada, nem sequer olha par mim e nem fala comigo, será que já
ligaram para contar o que fiz? De repente vejo alguém a porta, é uma vizinha,
do mesmo prédio do velho, estou frita. Falo com a mamãe, chamo ela, grito, mais
ninguém me ouve, porque? Se o que fiz foi tão grave, me desculpe...meu pescoço dói
muito e a cabeça também, não sei o motivo, mais ainda assim sigo a mamãe para
ver o que de tão grave aconteceu a ponto dela nem sequer olhar para mim.
Polícia, faixas amarelas, daquelas de filmes, muitas pessoas em volta,
todos os vizinhos e até mesmo algumas das crianças do bairro, vejo aquele velho
algemado e sendo levado a viatura dizendo:
“Eu não pretendia,
era apenas um susto e nada mais.
Eu não queria...”
Todos choravam muito, porque? E o velho, porque apanhou tanto? E porque
tanto sangue?
De repente minha mamãe grita meu nome completo, coisa que ela só faz
quando está muito, mais muito zangada, preciso ir!
“Ana Ritaaaaaa
Não! Minha filha
não”!
A dor no pescoço aumenta e minha cabeça começa a doer muito, parece explodir
- mamãe me ajude estou aqui!
Até que de repente, eu começo a me lembrar: estava com medo, tive a
sensação de que algo estava errado, mais olhei para todos os lados e não vi
ninguém. Passos lentos, silencio absoluto, quase nem respirei para ninguém me
pegar. Toquei a campainha e depressa virei-me para correr, mais não sei como, da
onde ele saiu, mais estava lá o tempo inteiro, corri o mais depressa que pode,
mais uma perna estava no caminho, quem deixara ela lá?
Cai como uma fruta pesada que cai do pé e lembro do meu pescoço doer
muito, escuridão e corri assim mesmo para casa com medo de dormir na rua.
Será que a mamãe algum dia vai voltar a falar comigo? Ainda estou aqui.
Olha só quem voltara para casa...hora de brincar.
Após o acidente, ela resolveu que só sairia para brincar de novo nesse
dia, pois sua mamãe andava muito triste e precisava dela
Sexta feira 13: Todos os anos neste
mesmo dia, todos no prédio podem ouvir a voz de Aninha dizendo:
“Doces ou
travessuras Há há há há “
Sr. Smith desesperado tentava fugir mais ainda assim ouvia a voz da
menina dizer:
“Você pode correr,
mais não pode se esconder
Lá la la la la”
Pouco a pouco o prédio a cada ano esvaziava, mais Aninha não o
abandonara, todos os anos ela ia lá para brincar, agora estava ótimo, tipo casa
mal assombrada, mais ela não tinha medo, não precisava mais disso.
“O velho louco”, assim era chamado, não tinha família e nem para onde
ir, por isso apesar de ser odiado por todos não saíra dali. Mas uma sexta feira
chegando, ele não suportava mais, sonhava com aquela garota, aquele episódio
todos os dias, mais na sexta era o pior de todos, pois era o único dia em que a
voz dela, seus passos lentos, sua risada infantil, inocente e o tocar da campainha,
não fazia somente parte dos seus sonhos. Chegara a registrar queixa na
delegacia, pedir para ser preso novamente, porém ninguém lhe dera ouvidos. Não
era somente o velho que ouvia Ana, todos do prédio a ouvia, cantar, sorrir,
pedir doces ou travessuras, correr, tocar campainhas, chorar, chamar pela mamãe
que nunca viria.
Essa sexta iria ser diferente: ele iria enfrenta-la não ficaria mais
escondido esperando ela ir embora, iria lá fora e resolveria tudo, vai ver ela
nem estava lá, era tudo coisa da sua cabeça.
Passos lentos, campainha tocando, risos, doces ou travessuras.
Tamanho foi o horror que aquele velho sentiu, ao abrir a porta e dar de
cara com a garota, com suas mãozinhas estendidas, carinha inocente, cabelo de
tranças com fitas e aquele mesmo vestidinho azul bebê. Ele correra
desesperadamente escada acima, não para o seu apartamento, e sim, para o
terraço do prédio.
Passos lentos, respiração ofegante, olhar de suplica, desespero e
arrependimento, vontade de voltar no tempo, um tempo no qual não poderia
jamais.
“- Não por favor!
Me perdoe, não foi minha intenção, vá embora, por favor...me deixe em paz!”
“Doces ou
travessuras!
Doces ou
travessuras!
Doces ou
travessuras!
Pode correr mais
não pode se esconder, não mais velho.”
Ele suplica andando para trás, enquanto a garota pede incansavelmente
pelos doces nos quais lhe foram negados por ele a vida inteira, se aproximando
cada vez mais. Ele grita por socorro, vizinhos saem de suas casas, porém ao
olhar para cima o ver sozinho no parapeito do prédio como se estivesse sendo
encurralado por alguém, mais eles não conseguem ver nada, apenas ouvem as vozes
tanto da menina quanto a dele, uma de desespero, outra de diversão e inocência.
Até que alguns novos moradores que não sabem do ocorrido no passado invadem
escada acima para socorre-lo, porém, era tarde demais.
Sr. Smith se jogará do prédio, sofrendo uma parada cardíaca fulminante,
antes mesmo de chegar ao chão, seu corpo ainda agonizava após o impacto,
parecia estar lutando contra alguma coisa apesar de não se encontrar mais com
vida. E para surpresa de alguns, não havia simplesmente ninguém lá em cima.
Sr. Smith fora enterrado com o auxílio de alguns novos moradores, nos
quais também prestigiaram o seu enterro, já que não possui amigos nem parentes.
Morrera aos 69 anos.
Hoje o prédio apesar de abandonado, até hoje todos anos, na mesma sexta,
ainda se pode ouvir pelas ruas a pequena Aninha correndo, pedindo doces ou
travessuras e chorando por sua mamãe que nunca irá chegar.
Relatório policial:
De acordo com
relato de vizinhos e o depoimento do próprio Sr. Smith a pequena Ana era uma
garota alegre e muito comunicativa e amada pelos pais. Costumava ela assim como
os garotos da vizinhança, tocar as campainhas dos prédios e saírem correndo para
se divertir. O Sr. Smith demonstrando um comportamento psicótico, passou a
vigiar os garotos em especial a garota a fim de segundo o mesmo, se vingar por
tocarem a sua campainha. Passou meses estudando os passos da pequena Ana (era
assim que todos a chamavam), até encontrar a oportunidade exata para agir. Ao
tocar a campainha sozinha do prédio, Ana não notou que alguém a esperava
escondido, esse alguém era o Sr. Smith, o mesmo colocara a sua perna no
caminho, fazendo com que a garota tropeçasse, caindo da escada, quebrando o
pescoço, indo a óbito imediatamente. A vizinhança o linchou e graças a chegada
da polícia, sua vida foi poupada, sendo preso em flagrante. Chegará a ser
detido, porém sua fiança foi paga, retornando para casa. Ana Rita era branca,
cabelos castanhos, longos, estava com duas tranças lado a lado, usando um
vestidinho azul bebê e segurando uma folha alaranjada nas mãos, tinha apenas 6
anos.
Lindaiá Campos
Nenhum comentário:
Postar um comentário